quarta-feira, 9 de maio de 2012

Crônica: Enfim, descobrimos mais um Brasil

Todos os olhos se voltam para o Norte. Para um norte desconhecido, inexplorado, cheio de potencialidades. Estou falando da cultura popular brasileira, e esse é, incontestavelmente, o Ano do Pará. Enfim, parece, a mídia, de maneira geral, percebeu o grande acervo pluralista cultural dos estados do nordeste e do norte do país, e, por conta disso, estamos sob uma inversão de foco. Até dois anos atrás, era o estrangeiro, o que não era nosso, que brilhava na mentalidade do brasileiro: o que vem de fora é melhor; o que vem de fora – é isso que precisamos ser. Entretanto, hoje, as novelas brasileiras, principalmente, mostram mais uma cara do Brasil. Uma cara até então desconhecida.
Cult não parece ser abreviação de cultura – designando um grupo que por ela se interessa -, parece ser de culto – no sentido mais profundo de cultuar -. Pois os muitos “cults” de hoje, que supostamente se interessam por cultura de maneira geral, passam a cultuar uma ou outra força de expressão, menosprezando, muitas vezes, outras tão ricas quanto. É o que vemos ao jogar na roda cult músicas de estilo tecnobrega. Gaby Amarantos, hoje estampando capa da Vogue, marca o início de um capítulo muito diferente na história cultural brasileira. E se ouvimos Ex-my love – percebe como ainda há forte marca cultural estrangeira? – abrindo Cheias de Charme, novela da TV Globo do horário das sete, é porque realmente alguma coisa está mudando.            
Por outro lado, não só os sotaques enfeitam as novelas brasileiras, apresentando o Pará e outros estados. No cenário musical, grupos, como a Banda Uó (que, apesar de ser de Goiás, se utilizam do estilo musical paraense), ganham destaque e chamam atenção pela riqueza das suas produções. A Banda, inclusive, vem ganhando prêmios como o VMB e conquistando cada vez mais fãs brasileiros. No início, eram versões abrasileiradas de músicas pop da cena internacional, somadas à batida característica do eletrobrega. Recentemente a banda anunciou a produção do primeiro disco, repleto de músicas originais. E são por esses novos caminhos que estamos descobrindo o Novo Brasil.
Apesar da notável visibilidade, o preconceito cultural – e regional – que se estende sobre o assunto é algo que, sem dúvidas, permanecerá durante algum tempo. Da mesma forma que o forró foi mais criticado até algum tempo atrás, os novos artistas do Brasil-Norte começam a sofrer rejeição, num paradoxo do público que abraça. O brasileiro ainda considera a cultura popular pobre, com falta de referências. Mas, muitas vezes, a conclusão é tirada antes mesmo de se analisar as produções. Novelas como a já citada Cheias de Charme, a finalizada Cordel Encantado, e Amor Eterno Amor estão se encarregando de levar um pouco dessa cultura esquecida ao restante do país. O eixo Rio-São Paulo foi bastante reduzido, o que abrirá espaço para que o público conheça mais as outras regiões. Enquanto isso, nos cabe apreciar essa invasão cultural, torcendo para que a cultura brasileira se renove e ganhe o seu devido valor no entendimento do público.
                                                                                                                           
                                                                                                                                João Ricardo Ribeiro

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